Museu das 100 Portas
18-03-2017
Durante o século XX, o sistema da arte vai sofrer uma profunda transformação. De um círculo de intervenientes restrito cingido ao encomendador e ao artista, o museu e as galerias ganham importância, assim como os comissários, curadores, críticos de arte e revistas da especialidade.
O texto surge associado à arte, não apenas como explicação da obra ou mediação com o público, mas como parte integrante do trabalho produzido. Por outro lado, surge sobretudo a partir dos anos 60, uma importante reflexão sobre o espaço expositivo que vai reequacionar o modo como a obra se relaciona com o visitante.
Não será estranho, por isso, que os modelos de ensino artístico de vanguarda procurem desenvolver nos alunos as mais diversas abordagens artísticas conferindo-se ao Racional Curatorial uma importância decisiva para a avaliação final. Desde cedo, os alunos são convidados a ligar os seus trabalhos por uma teoria expositiva que ligue de modo coerente e compreensível todo o corpo de trabalhos produzidos. Tal implica opções prévias que passam pela escolha das técnicas e dos materiais de suporte.
É neste contexto que apresentamos a sala das 100 portas. A verdade constitui hoje um dos temas centrais da educação. Se considerássemos apenas uma porta, diríamos que o aluno teria de a escolher comprometendo assim o principio da educação para a liberdade. Por outro lado, se colocarmos o aluno num cenário hipotético em que todas as opções são possíveis e igualmente desejáveis, estamos a criar um labirinto do qual o aluno dificilmente teria discernimento para sair. Como Victor Garcia Hoz nos adverte, vivemos uma mistificação do papel do artista – liberdade descomprometida, vontade radical absoluta ausência de limites reais ou de quaisquer canones para a criação. Hoz faz notar que a transferência desta consciência artística para uma definição antropológica se «iniciam aventuras que podem acabar por se abater sobre as pessoas individuais e sobre os povos».
Os trabalhos procuram ajudar a reflectir sobre este dilema recorrendo a referências tão diversas como «O Príncipe» de Maquiavel, “O Processo» de Kafka, ou o «Shinning» de Kubrick.